Lírica camoneana
EXERCÍCIO 1
Lê, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
CANTIGA
a este mote alheio:
Verdes são os campos
de cor do limão
assi são os olhos
do meu coração.
Campo que te estendes
com verdura bela;
ovelhas, que nela
vosso pasto tendes;
d’ervas vos mantendes
que traz o verão,
e eu das lembranças
do meu coração.
Gado, que paceis,
co contentamento
vosso mantimento
não no entendeis:
isso que comeis
não são ervas, não:
são graças dos olhos
do meu coração.
1. Na primeira estrofe, distinguem-se dois momentos. Identifica-os e explica por palavras tuas.
2. Na segunda estrofe, o «mantimento» do gado é metaforicamente o «mantimento» do sujeito poético. Explica de que se alimenta o sujeito poético.
3. Explicita como se traduz o sentido do mote ao longo da cantiga.
EXERCÍCIO 2
Lê, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
CANTIGA
a este mote:
Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
vai fermosa e não segura.
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
cabelos d’ouro o trançado,
fita de cor d’encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.
1. Nesta cantiga, sobressai a descrição de uma figura feminina. Faz a sua caracterização a partir dos elementos textuais.
2. Explicita de que modo a influência peninsular, da tradição das cantigas de amigo, está bem presente neste texto.
3. Interpreta o último verso do mote, que vai sendo repetido ao longo da cantiga.
EXERCÍCIO 3
Lê, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
ESPARSA
sua ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m’espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
Assi que, só para mim
anda o mundo concertado.
1. Relê os primeiros cinco versos. Explica a constatação do sujeito poético em relação ao mundo.
2. Na segunda metade do poema (últimos cinco versos) passa-se para o universo pessoal do sujeito poético. Identifica o verso que demonstra uma atitude crítica do sujeito poético face à sua má ação. Justifica.
3. Interpreta o sentido dos dois últimos versos.
EXERCÍCIO 4
Lê, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos…
e sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos!
1. Atenta na primeira quadra. Explica, por palavras tuas, a situação apresentada.
2. A segunda quadra, surge por oposição à primeira. Identifica a palavra que marca essa oposição e explica, por palavras tuas, a situação que se opõe.
3. Nos dois últimos tercetos, a quem se dirige o sujeito poético? Como alcança o leitor o entendimento dos versos?
EXERCÍCIO 5
Le, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
1. Atenta na primeira quadra. Explica, por palavras tuas, a situação apresentada.
2. Na segunda quadra, os dois primeiros versos são irónicos. Explicita esse facto, tendo em conta o conteúdo da estrofe.
3. Nos dois últimos versos, há uma construção simétrica das frases. Interpreta o sentido da repetição «não sei».
EXERCÍCIO 6
Lê, com atenção, o poema, que se segue, e responde às perguntas de forma completa e bem estruturada.
Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando,
nu’hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar u’hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
1. Caracteriza o estado de espírito do sujeito poético.
2. Nessa caracterização do sujeito poético, encontras um largo conjunto de antíteses. Escolhe um exemplo e interpreta o seu significado, à luz do sentido do poema.
3. Explica, de acordo com o sentido do poema, o que motiva este estado de espírito do sujeito poético.